Neither in the dark, neither in the light. We write our stories covered by shades.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ao meu Querido Feitor - Parte 1

Olá novamente. Estou postando a história de uma personagem que há muito tempo venho desenvolvendo.. Espero que gostem! Talvez vocês fiquem com cara de ponto de interrogação querendo saber que diabos essa história tem haver com qualquer coisa das mesas e eu vos digo; aguardem e verão.

Como esse conto ficou grande pra caramba, dividirei em partes. Favor ler na ordem para obtenção de sentido.

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Ao meu Querido Feitor - Parte 1

Os passos em marcha contínua e ordenada lhe enchiam os ouvidos. Barulho de gritos, breves, para depois um silêncio fatal. Ela olhava por uma fresta dentre a porta entreaberta do armário, onde se agarrava nas roupas de seu pai.

Seu pai havia ido à guerra. A guerra que, segundo ela sabia, já estava ganha. Mas certamente não era o que aparentava agora.

Ela se apertava mais forte nas roupas do elfo, engolindo seu medo. A lembrança dele a fazia ficar mais forte e, por isso, ela não chorava. Seu primo havia de voltar a qualquer minuto, trazendo ajuda. Ela fugiria daquelas criaturas que haviam invadido a cidade. A qualquer minuto..

A garota ouve o barulho da porta da frente de sua casa – bela casa, de família nobre e importante entre os elfos – ser escancarada. O barulho de passos firmes, de botas duras, vindo a seguir. Ela sentia o coração acelerar, o medo, mas permanecia quieta. Em breve, chegaria ajuda.

Sem andar erroneamente pelo labirinto de quartos que compunha a casa, os soldados entram rapidamente no quarto. Rosnavam em uma língua para ela desconhecida ordens uns aos outros. Pararam.

O que parecia o líder caminhou calmamente ao armário, e falou numa língua neutra; Valkar.

“Saia. Sabemos que está aí.”

A garota cedia às lágrimas, se encolhendo, rezando à Dama Élfica para que seu pai aparecesse com toda a tropa que comandava. Mas não aconteceu. Ela ouviu um sussurro que parecia vir de seu primo. O comandante prosseguiu.

“Eu sei que me entende. Vamos. Saia e nos acompanhe.”

Ele abriu a porta do armário de súbito, para encontrar a jovem elfa segurando-se nas roupas do pai; um importante general da região, quem provavelmente havia tombado em um campo de batalha, defendendo o centro de Lenórienn.

As cidades satélites, como aquela, ficaram então sem defesas. Todas as tropas haviam sido mandadas para o centro. Todas haviam perdido no centro.

A menina observava a tropa de dez hobgoblins, e entre eles, seu primo. Não tinha muito contato com a irmã de seu pai, que havia a muito se juntado a um humano. Apesar de certo desprezo da família, ele, elfo de coração nobre, decidiu abrigar o filho meio-humano de sua irmã, a quem ainda amava muito.

No entanto, ambos primos sequer se conheciam. E ele trocou de bom grado a localização da elfa em troca de sair com vida daquele campo de batalha.

Ela o olhou com tristeza e ódio quando o líder da tropa por fim o dispensou. O garoto assustado passou mais uma vez os olhos pela prima, ofegante, antes de sair correndo e desaparecer pelas escadas.

Filho de uma cadela, ela pensou.

“Amarrem-na. General Dohokr quer vê-la.”

Um dos soldados tenta a arrancar do armário em que ela se abrigava. A garota se debate, morde, arranha, tenta lutar como podia. Tudo em vão. Mas não iriam levá-la sem luta.

Um golpe certeiro. Desmaio. Ela já não podia ver nada.

Quando a elfa enfim acorda já não podia reconhecer onde estava; uma base militar daquelas criaturas. Amordaçada e bem amarrada, um soldado a carregava nos braços, indo em direção ao que parecia ser a tenda do chefe de todos aqueles hobgoblins. Sua cabeça doía, sua visão estava turva. Pouco podia entender daqueles monstros fardados, arrumando armas, esperando para atacar novamente. Muitos olhavam para ela. Seus superiores rosnavam algo que parecia fazê-los voltar ao trabalho, aos berros e ameaças.

Eles enfim adentram na grande tenda militar improvisada. O soldado ergue a garota, mostrando-a.

“Senhor! O que pediu; um jovem elfo de sangue nobre. Pelo que foi dito teve uma educação exemplar, está em perfeitas condições de saúde, sabe fluentemente diferentes línguas, teve treinamento em armas e magia. Além disso, sabe tocar harpa, e melhor ainda; é uma fêmea.”

Mesmo que ela não tenha entendido uma palavra, entendeu que estava sendo apresentada como mercadoria. O soldado então começou a passar as enormes mãos por seu corpo delicado, rasgando-lhe as roupas, despindo-lhe. Ela soluçou de medo.

Não tinha ainda seios, e isso parecia agradar o hobgoblin que deslizava a mão asquerosa pelo seu busto, começando a descer pelo seu corpo.

O líder então virou a cadeira, observando. Levantou-se, e caminhou calmamente ao soldado. Já não era jovem, e uma cicatriz de espada cortava-lhe o rosto do lado esquerdo, até acima do nariz. O cabelo negro, eximiamente penteado estava preso para trás, num rabo de cavalo. Ele retirou o monóculo que usava para ler. Parou ao lado do outro de sua raça.

“..O que pensa que está fazendo, soldado..?”

“..Senhor? Ah! Desculpe, Senhor! Só estava “petiscando”, General! Claro que ia deixar para... Vossa senhoria.. “estrear”..”

“”Petiscando”?” – Ele ri, desembainhando calmamente a espada. – “Responda-me, recruta. É um animal?”

“S-senhor?”

“Responda-me recruta. É um animal no cio?”

“D-desculpe-me! Senhor General Dohokr, líder dos Hobgoblins do Nor..”

O General aponta a espada para a garganta do outro hobgoblin. Ele choraminga.

“Meus homens sabem as leis da guerra. Não são animais imbecis e descontrolados que estupram elfas e saqueiam a vontade, queimando, depredando e destruindo como um bando de bugbears estúpidos. Estamos aqui para conquistar. Estamos aqui para aprender com o inimigo e nunca mais sermos subjugados. Diga, homem, a que deus sua alma serve?”

General Dohokr falava em Valkar, propositalmente para que a elfa entendesse. Ele presumia que ela entenderia.

“Ragnar! R-ragnar o Senhor da Morte! Agora por favor, poupe minha vida!”

“..Falta-lhe disciplina.” – Continuou o General, em língua humana – “Ragnar e seus filhos bugbears querem semear só destruição descontrolada até serem eles mesmos consumidos pelo próprio caos. Você é um hobgoblin. Mas acha-se filho de Ragnar.”

“Senhor.. Por favor..”

“Eu sou um filho de Hurlaagh, nosso criador, que chora ao ver crias como você. Eu sou um servo do general supremo, do lutador invencível, Hrumork, o Senhor da Guerra. Não tenho espaço para bestas como você em minhas fileiras.”

Num único e harmônico golpe de sua espada longa, o General fez a cabeça do soldado rolar ao chão, tingindo a jovem elfa de vermelho. Ele a segura, tirando-a em um movimento rápido do corpo sem vida e a colocando sentada na mesa.

Após isso, o hobgoblin rasga as amarras da elfa, deixando-a solta, e sem mordaça. Ela salta da mesa e se encolhe em um canto, maquinando como fugir.

“..Pois bem. Depois desse breve contra-tempo.. Diga-me, criança.. Qual seu nome?”
A garota continuava como antes.

“Meu nome é Dohokr. Agora vamos.. Diga seu nome.”

Ele caminhava lentamente até ela, calmo. Já havia guardado a espada na bainha. A garota olhou com raiva para ele, esperando o hobgoblin se aproximar.

O general chega até ela. A elfa levanta um pouco o corpo e cospe no rosto do goblinóide, tremendo de medo, mas impassível no olhar.

“Não direi nada a você, monstro!” – Ela grita esganiçada, em élfico.

Ele limpa calmamente a fronte. E sorri. Ao contrário do que se poderia pensar, seus dentes eram brancos e bem cuidados; os caninos inferiores, proeminentes, lixados na ponta a fim de que ficassem com o mesmo tamanho.

“Me disseram que é filha de um comandante de tropas e de uma druida selvagem. Interessante. Mas, criança, não seja tola. Vocês perderam a guerra.”

“Nunca perderemos a guerra! Lá, em Lenórienn...”

“Lenórienn caiu há dois dias. Acabou.”

Os olhos da jovem imediatamente encheram de lágrimas e medo. Tudo que havia sido informado aos elfos daquela região afastada é que era questão de tempo até eles ganharem novamente dos goblinóides estúpidos.

“...Deusa.. Por.. Quê..?”

“Ora, criança. Vocês perderam por tolice. Há incontáveis gerações, os elfos vêm ganhando as guerras. Vocês tem estratégia, armas, magia.. Artefatos invejáveis. Mas, menosprezaram o meu povo. Nós evoluímos. E o Deus da Guerra sorriu para nós. Por isso, pequena elfa, que eu quero aprender com vocês, para nunca mais perder. Seria imbecilidade menosprezar um povo que, a muito, nos venceu, não acha?”

“Maldita seja essa guerra!”

O hobgoblin riu.

“Parece que vocês esqueceram aspectos de si mesmos, não é? Sabe.. Eu gosto muito de ler. Eu aprendi muito sobre povos e culturas distintas. E estratégias. Por isso, criança, que eu invadi suas terras hoje deixando casas e cultura aproveitável, intactas. Prisioneiros, apenas os úteis como você. Sem tortura inútil, sem sadismo bestial. Eu quero que meus soldados construam uma família íntegra e não de barbárie quando voltarem para suas mulheres.

Mas ao que eu saiba.. A deusa élfica tem em seus aspectos, além de magia e caos, a guerra. Não? Você esqueceu disso?”

A garota nega com a cabeça, levantando o corpo. Tenta fugir. Dá uma pequena corrida em direção a porta.

“Tolice.” – Diz o General, sem nenhum alarme. – “Criança. Você tem duas opções; Ou você fica aqui, ou você foge. Fugindo, você vai se deparar com uma tropa de soldados que, mesmo treinados e disciplinados, vão se divertir muito abusando de você um depois do outro até que seu corpo esteja retalhado. Então, enfim, vão devorar a sua carne. Mesmo que eu não autorize, escondidos ou não, vão fazê-lo. Estão numa guerra. A tensão corre em suas veias.”

A menina soluçou.

“Eu não vou ajudar você! Eu prefiro morrer!”

“Morrer? Por quem? Pelos elfos? Pela sua família? Pois lhe digo.. Morta, nada poderá fazer. Viva, você sempre pode conseguir fugir em boa situação e, quem sabe, salvar alguém. Ou, se você me agradar, negociar a vida de alguém. Mas, se prefere a morte..” – Ele desembainha a espada – “Posso matar-lhe agora. Então? Vida, ou morte?”

A elfa olhava confusa e apavorada. Sentiu duas lágrimas rolarem pelo rosto, mas permaneceu com o corpo ereto, firme.

“...” – Ela respirou profundamente – “..Prefiro viver.”

“É uma menina inteligente. Vai me dizer seu nome?”

Ela abaixa a cabeça, relutante, como se num último grito de liberdade.

“Entendo. Ei, Kartht, venha cá!”

Outro hobgoblin rapidamente aparece na tenda.

“Chamou, General?”

“Leve-a para o cárcere. E alimente-a.”

“Sim senhor.”

“Quando ela comer, traga-a em minha presença novamente.”

“Entendido, senhor.”

A menina não entendia o que eles falavam. No entanto, protestou quando o outro hobgoblin a imobilizou, agarrando-a, e arrastando-a para fora.

Ela foi levada à outra tenda, atrás da do general. Uma prisão, aparentemente, pois dentro havia reforços com barras de metal. Então empurrada para a jaula pelo goblinóide, que finalizou fechando a porta gradeada num ruído alto. Ela olhava impressionada e amedrontada pelo aprisionamento. Então virou para trás, observando-o.

A cela nada parecia com uma cela, exceto pelas grades resistentes de metal que a cercavam. Uma cama, tapetes. A cama estava coberta com seda élfica, trazida de alguma casa invadida. Sobre a cama havia uma bela boneca, igualmente élfica. A tenda era quente, graças ao chão forrado de peles, todas recém abatidas.

“Sua comida.”

Falou o mesmo hobgoblin de antes, deixando uma bandeja e um prato no chão, por meio de uma fresta na jaula.

A bandeja era de prata decorada. O prato, porcelana pintada à mão. Élficos.

“Como sua roupa está rasgada, na gaveta da direita pode encontrar roupas novas.”

Após dizer isso, o hobgoblin se retirou.

Nervosa e confusa a garota olhava aquilo tudo sem entender. Encolheu-se num canto, com as roupas rasgadas, e deitando-se no chão. Recusou a comida. O prato lhe foi retirado sem que seu carcereiro nada dissesse, nem nenhuma repreensão fosse dada.

Permaneceu nas primeiras vinte duas horas no chão. Depois, trocou a roupa, e deitou-se na cama. Quarenta horas depois do cárcere, chorava, abraçada na boneca. Em quarenta e quatro horas, dormia, abraçada com a mesma boneca.

Cinqüenta e seis horas depois de ser presa, a elfa enfim cedia à fome. Algum pássaro da floresta, caçado e cozido em tempero forte, mas agradável. Comia com certa voracidade.

O General havia calculado quatro dias até ela comer. Mas ela cedera antes. Seu plano estava dando mais certo do que o imaginado.

Seu carcereiro voltou, abrindo a jaula. Ela sabia que não poderia escapar. Nem tentou.

Ele trazia uma tina de água.

“Tome banho. Se troque. Irá jantar com o General Dohokr essa noite.”

E ela, vendo-se sem escapatória, decide fazer o que lhe fora mandado.

A garota fora guiada pela mão até a tenda do General. Limpa e arrumada, usava um belo vestido e trazia em mãos a boneca élfica. Estava ainda abatida pela guerra, mas parecendo menos uma sobrevivente faminta.

Entrou sozinha na base. O General ergueu o rosto, tirando seu monóculo e guardando os papéis que lia. Fez gesto para ela se sentar na cadeira frente a sua mesa. Ela o fez.

Minutos de silêncio mais tarde, um jovem hobgoblin entra na tenda. Arruma pratos, serve a comida em bandejas de palha trançada; improvisada, mas bonita manufatura de seu povo. Serve água à garota, e algum alcoólico forte ao General. É dispensado.

“Pois bem, criança. Espero que o assado esteja do teu agrado.”

“...”

“Se não quiser comer, não te culpo. Mas aviso-lhe, irá vir jantar aqui todos os dias, a partir de hoje. É bom se acostumar.”

“...Por que..?”

“Como?”

“...Por que não me mata? Por que não age como os outros hobgoblins? Por que me deu um quarto, roupas, boneca?? POR QUÊ??”

A elfa abaixa o rosto e começa a chorar. Ele toma um gole da bebida.

“Achei que fosse gostar da boneca.”

Ela continua chorando.

“Entenda, menina. Você me é útil. Você vai me ajudar. E para quê eu vou destratar alguém que vai me ajudar?”

“Eu sou uma elfa! E.. Eu nunca vou te ajudar!”

“..Acho que eu sei tua raça. Criança, já matei adultos de sua espécie armados até os dentes, sem que sequer me arranhassem. Não tenho medo de um filhote como você. Mas tenho cautela. Veja essa marca, em meu rosto. Quem fez? Um elfo. E exatamente para que isso não aconteça mais, você está aqui.”

“Maldito! Eu nunca vou te ajudar! Nunca!”

“Vai. E lhe digo. Vai querer ajudar.”

Ela olhou sem entender. Franziu o cenho. Fitou com ódio.

“Por que me odeia? Estou sendo ruim, menina? Se matei dos teus, os teus mataram dos meus. É uma guerra. Ou você acha que nenhum elfo jamais degolou uma criança goblinóide, indefesa, chorando pela mãe?”

Abaixou os olhos.

“Seu nome. Diga-me seu nome.”

Olhou para os lados, tentando desviar da pergunta. Respirou fundo. Sussurrou.

“Yarinni Lazuli.”

“Finalmente estamos nos entendendo. Se quiser, pode ir para sua tenda. Se quiser, pode fugir, mas eu já te alertei que morrerá de uma maneira brutal se o fizer. Leve a comida. Mais tarde, mando-lhe entregar um doce.”

Ela pensou em gritar. Fugir. Morrer. Desobedecer. Mas domando seu coração caótico com pavor, ela simplesmente fez o que fora mandado. E comeu em sua cela. E conversou com sua boneca. De fato, mais tarde, ganhou o doce. Comeu com gosto – A muito, desde a explosão daquela guerra genocida não via guloseima como aquela.

E com o passar dos dias, a elfa foi acostumando a conversar com o General Dohokr. Imaginava que ele ia, em pouco tempo, fazer algo. Feri-la. Torturá-la. Abusar dela. Mas semanas depois, o ritual continuava o mesmo; ela jantava com ele, conversava por pouco tempo, e voltava ao confinamento.

Ganhava presentes tirados das casas élficas saqueadas; roupas, livros, brinquedos. Se não fosse pela prisão, podia dizer que levava uma vida de luxo.

O General a tratava sempre bem e polidamente. Aos poucos, ela foi deixando de ficar encolhida na cadeira, e começou a conversar com ele. O hobgoblin era culto, inteligente, e paciente. E ela não tinha com quem mais conversar.

E os minutos que ela permanecia com ele vagarosamente se tornavam horas. E ele arranjou uma harpa élfica para ela, e depois quase um mês, a convenceu a cantar para ele.

Por meses ela entoou antigas cantigas élficas. E ensinava sem perceber.

E Dohokr arranjou pergaminhos de magia. Sabia que a jovem elfa conhecia a arte arcana milenar, e pediu para que mostrasse a ele. Deu a ela pergaminhos com magias inofensivas.

Ela leu e executou as magias. Era interessante agradar o General, pois ela sempre ganhava presentes e atenção em troca disto.

Há muito tempo diversos hobgoblins tentaram forçar elfos a ensinar-lhes sua língua complexa e, com ela, a maravilhosa manipulação da magia. Torturaram, mataram, esfolaram, e fizeram todo tipo de perversidade com esse fim.

E com apenas um plano simples, General Dohokr estava lentamente conseguindo o que nenhuma de sua espécie jamais havia botado as garras.

Pediu à elfa para que lhe traduzisse e ensinasse magia. Ela negou. Sabia que isso estava errado.

Dohokr esperou e esperou, por meses, a agradando como podia e fazendo todas suas vontades de criança.

Então, por cada vez menos tempo ela ficava na cela e por cada vez mais tempo ficava junto ao General, em sua tenda. A menina já não conseguia odiá-lo. Sim, todos os hobgoblins eram maus, mas ele não era mau. Ele era bonzinho. E ele gostava muito dela.

O hobgoblin se ofereceu para ensinar a elfa o idioma goblinóide. E por mais que ela não quisesse sabia que lhe seria útil e, depois de negar-se por algumas semanas, por fim aceitou as aulas.

E muitos meses depois, depois de ocorridas várias mudanças de acampamento e de área, e de estações frias e de estações chuvosas, Dohokr pediu novamente à menina.

Seria desleal ele instruí-la em algo e ela continuar recusando-se a traduzir pergaminhos e ensinar-lhe magia. E ela pensou, e pensou.

E concluiu que ele estava certo.

E a garota elfa passou então a lecionar ao General hobgoblin; élfico, magia, e a traduzir pergaminhos mágicos.

E em troca ele ensinava goblinóide à ela. E dava-lhe mais brinquedos. E ajudava-lhe a ajeitar o vestido e a pentear seus negros cachos de cabelo. E elogiava dela os olhos, profundamente azuis.

Era uma criança verdadeiramente encantadora, apesar de não ser dotada da beleza estonteante que as lendas falavam sobre as elfas. Mas ela era muito perspicaz, e havia aprendido como usar um arco e uma espada de modo excepcional mesmo que esses fossem além de seu próprio tamanho.

E ela sabia o idioma élfico, a língua dos humanos, a língua dos seres da floresta, e um pouco de anão. E aprendia goblinóide com maestria.

Havia lido vários livros sobre os mais diversos assuntos. Havia aprendido com o pai um pouco de estratégias de guerra, e guardado em memória cada uma delas. E tudo em uma idade tão tenra.

General Dohokr conseguira em anos fazê-la ensinar-lhe élfico. E dar-lhe a magia. Mas, por algum motivo, ele não conseguiu matá-la ao concluir esse patamar, como havia planejado.

Ela era uma boa distração entre as batalhas, privada propositalmente de conviver com violência; A menina não vira nenhum elfo mutilado, nenhuma tortura, nenhum grito de agonia e pânico. Nenhum ferido. Tudo para fazê-la acreditar que morava em um sonho, e não numa guerra constante.

Um sonho em que era cativa por um feitor gentil, mas ainda assim um sonho.

Ela era um animalzinho de estimação curioso e sagaz, o qual ele decidiu manter por puro capricho.

E anos passavam numa velocidade estonteante enquanto a guerra lá fora rugia e devorava. E o General e sua criaturinha encontravam-se satisfeitos.

(Continuação em construção, por favor aguardem..)

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