Neither in the dark, neither in the light. We write our stories covered by shades.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Identidade

De um reino muito muito distante, alguém resolve aventurar-se por um mundo conturbado, cheio de perigos, riscos, dificuldades. Porém, esta pessoa está decidida a resistir tudo isso para conseguir uma cura que pode salvar alguém de seu próprio sangue.

O mundo não lhe é confiável, não lhe é amigável .. pois a cada momento surgem obstáculos para refreá-la em sua busca. Mas mesmo em meio à tal decadência no continente, heis que ainda persistem pessoas dignas de se chamar companheiras, colegas. Faziam décadas que ela não presenciava como era não estar sozinha. a natureza sempre foi seu lar, seu conforto, seu refúgio.

Por mais que tenha sido breve o tempo que esteve em companhia de tal grupo, foram bons momentos. Novamente, o mundo não he é agradável, hospitaleiro .... pois ao estar perante à concretização de suas preces, de seu desejo ... o mundo lhe dá as costas e lhe amaldiçoa ...

Uma vez mais, ela se encontra sozinha ... mas por breves momentos ... pois está fadada à loucura. Seu desejo de curar um ente querido, se torna o pior de seus pesadelos, consumindo lentamente sua sanidade. Vozes reverberam em sua mente, seus suspiros ecoam em sua alma, devorando sua consciência, rasgando sua sanidade. Sua força de vontade é inimaginável, mas mesmo assim não consegue refrear tal insanidade.

Ao procurar uma cura para alguém de seu sangue ... encontra sua perdição. Mas ela não cede, continua lutando a tudo momento contra a insanidade. Um fio de esperança, algo que lhe dá forças para continuar, é a única coisa que encontrou para apaziguar esse turbilhão devastador de loucura ... Mudar sua forma ameniza esses efeitos, lhe dá preciosos momentos de resistência. E assim, esse se tornou seu novo objetivo.

Agora ela trilha o caminho da metamorfose, buscando o ápice da transformação : o limiar da forma, a forma que não mais tem uma forma própria. A forma que é de fato, todas as formas; transcender a forma e discernir sua identidade, independente de sua forma. Ela procura se tornar o mestre das muitas formas.

Em meio à loucura que lhe consumia vagarosamente em uma agonia indescritível, quando sua consciência havia quase se extinguido, alguém lhe socorreu e lhe ajudou a recobrar a sanidade, e por mais inacreditável que pudesse parecer, podia suprimir as vozes, a loucura. Ela ficou muito grata pela ajuda e resolveu ajudar essa pessoa.

A partir desse momento, ela acompanha Sora e aqueles que estão com ela também. Mais uma vez, não se encontra sozinha em sua jornada.

Muito aconteceu desde que encontrou aquela moça que lhe ajudou. Aventuras, complicações, desavenças, mistérios. Mas as pessoas ainda se encontram de certa forma unidas. Para alguns, ela vê como meros parceiros de uma missão, outros ela vê como companheiros, e há quem ela veja como amigo.

Elfos ... o mundo não se tornou um lugar hospitaleiro para eles, e em retorno eles também não nutrem gosto pelo que não for de sua raça. Não é diferente os elfos que se encontram neste grupo. Um que se recusa a deixar essa existência e se pudesse, faria um mundo onde só existissem elfos. Outro que nute o mesmo desgosto pelos outros e que alcançou uma "imortalidade", que consiste em consumir a existência de outros para prolongar a própira. Por estes, ela não põe sua vida em jogo, e também não apóia seus métodos. Estes, ela considera como membros de um grupo com uma missão em comum apenas. Conceitos e concepções se chocam, tornando-se complicado o convívio.

Humanos ... Traiçoeiros, loucos ou fanáticos ... e tem-se os três neste grupo. Os humanos presentes com procedência duvidosa, pois dois vieram de Ahlen e um de Hershey... O mago é dotado da loucura. Em geral uma boa pessoa, mas pensamentos muito caóticos e atitudes controversas e aleatórias ... De certa forma ela simpatiza com este humano maluco. Já o outro humano, está entre eles faz pouco tempo, não há nada que faça dele uma pessoa confiável. Pelo menos ainda não aprontou nada com o grupo. O caipira do grupo, é um fanático por um deus desconhecido dela, ele não é uma ameaça ... mas fanáticos nunca são de todo confiáveis. Mesmo assim, é uma boa pessoa em geral.

Anões ... Estes são menos complicados de se lidar, e são mais confiáveis que os anteriores. O anão presente no grupo é o que mais tem a ver com ela ... pois seu pai sofre dos mesmos problemas que ela sofre. E seu passado tem menos mistérios. E ele entende que coisas simples, são algumas das mais prazerosas na vida : comer e beber.

Por mais que seja mais experiente e tenha mais vivência que todos os integrantes deste grupo, ainda há muito o que aprender e entender em sua vida.

Agora que conseguiu conversar com um druida peregrino que tem conhecimentos notórios sobre transformação, ela sente-se revigorada em sua missão e seu objetivo. Não desistirá por nada e não deixará nada ficar em seu caminho.

Por mais que não comente muito sobre ... sua fé na Grande Serpente jamais se extinguiu. Sua forma pode mudar, mas sua alma jamais irá ... tão pouco suas esperanças e crenças. Ela ainda procura um tempo para voltar para casa ... rever seus entes que a muito tempo não vê. E irá ...


quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Memórias... E vingança.

Barulho; Pessoas conversando, bebendo, se divertindo. Nada disso importa. Tudo que o anão vê é o copo em sua frente; A única coisa naquele castelo que o lembra de seu reino. Doherimm. Como posso considerá-lo "meu" reino, depois de tudo? Não podia. Doherimm não era mais o lugar que conhecia. Não era mais um lar. Querendo ou não, seu lar agora era ali - Naquele castelo, que havia arriscado sua vida para defender.

Mas, pensando bem, não é como se isso fosse algo extraordinário. Ghern acharia estranho se NÃO tivesse lutado. Essa era, afinal, sua vida. Desde que se tornara adulto, havia vivido uma batalha após a outra; No fundo, seu verdadeiro lar era o campo de batalha. Mesmo que não gostasse de admitir, era a única coisa que o fazia se sentir verdadeiramente vivo.
Mesmo assim, havia algo de diferente agora. Lembrava-se dos tempos da guerra. Da época em que era o grande general Jahldrimm, líder da 7ª unidade de elite, um tempo no qual tinha certeza de suas convicções. Um tempo sem dúvidas, sem truques. Bons tempos.

Ghern sentia falta daqueles tempos. Sentia falta da certeza, de saber que podia confiar em seu próprio povo. A única coisa que ainda tinha, era a sensação do próprio sangue correndo nas veias, e do sangue inimigo manchando seu machado e armadura. Agora, porém, havia outra coisa. Havia justiça. Havia, mesmo que quase invisivel, um fio de esperança.

O Balor. Jonas. O desgraçado que manipulou seu povo, e virou seu próprio clã contra ele. O anão esvazia o copo, pede mais um, pragueja em sua lingua natal e jura silenciosamente que verá o crânio do demônio decorando o salão de seu clã.

Claro, Jonas não é o único, e nem o maior dos inimigos. Ainda existe a Tormenta. Invencível, inexorável, a tempestade permanecia um câncer crescente, sua influência se extendendo cada vez mais. Mas ele sabia que não seria possivel enfrentá-la. Não agora. Não sozinho. Apesar de tudo, não gostava da idéia de se sacrificar à toa. Mesmo que seja dificil admitir, tinha um motivo pra viver. Tinha pessoas a proteger.

Mais um copo vazio. Mais dois copos pedidos. Lembrava-se dos companheiros. Mesmo que não goste disso, havia se apegado a eles. De inicio, evitava. Não queria repetir a dor de ver seus soldados caindo diante de seus olhos, nem queria arrastar outros para sua propria batalha. Mas pensando bem, agora não é apenas minha. Lembrou-se dos elfos. Do garoto. Mesmo contra todo seu bom senso, gostava do garoto. Ele tinha fibra, mesmo que não visse isso. Ghern achava engraçado que Martin tivesse se tornado clérigo. Achava que o garoto era bom demais pra servir a deusa patética que servia. Mas confiava nele. Confiava em seus companheiros de batalha, pelo menos naqueles que haviam provado sua lealdade. Toby. La-uth. O garoto. Quanto aos outros, tinha suas dúvidas. Gostava da Nagah, mas sabia que não podia confiar sua própria vida a ela. Pensava o mesmo do mago.

Mesmo assim, teriam que se provar quando a batalha viesse. E ela viria. O tempo de resolução se aproximava; E o Balor e seus servos aprenderiam a temer o nome do clã Jahldrimm.

"Mais uma cerveja!"

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Reflexão - Conto

Ae pessoal, beleza? Eu sei que todo mundo tem preguiça de vir aqui, mas acreditem ou não, eu venho ver o Blog com certa constância até. o.o"

Bom, eu escrevi um conto, deve estar enorme pra colocar aqui, mas.. Quem quiser leia que eu acho que ficou bacana. Comentários?

-----------------------------------------------------------------

Reflexão


Depois de finalmente chegar em casa ele decidiu que precisava de um tempo sozinho para refletir. Foi caminhando com seu corpo falso, ilusório, e adulto. Nada mais era do que uma versão idealizada de si mesmo, se estivesse vivo. Martin andou pelo cemitério sem pressa, buscando sua tumba não terminada.

Aquele castelo era sua casa. Mesmo que Sora estivesse estranha agora. Ele confiava que sim, era sua família e seu lugar. E o pensamento fazia as coisas menos dolorosas, às vezes.

Passou os olhos nos blocos de pedra ainda crus e sem adorno, e antes de entrar, olhou pra trás. Podia sentir que era observado por outros seres como ele, perdidos na existência. Mas os fantasmas tinham receio de se aproximar; sentiam que o elfo era forte e que sua alma era corrompida. Mais que as deles, ao menos.

Ele sabia que devia conversar. Talvez pudesse ajudá-los, melhorar o lugar, orientá-los em algo. Mas não agora. Agora ele estava confuso sobre seus próprios problemas.

Martin entrou, abrindo com cautela a porta gradeada, fazendo-a ranger. Olhava para o lugar não acabado e apenas com as bases do que seria. Ele fechou a porta, trancou o cadeado, e deitou-se no chão, olhando para cima.

Era um clérigo agora. Tinha responsabilidades. Havia visto o que ocorrera no reino de Glórienn, que havia sido invadido pela Tormenta, o que lhe trazia mais responsabilidades. E, ainda, o servo direto de sua deusa havia dito pouco antes de morrer que a Dama Élfica teve motivos para permitir a permanência dele como um fantasma em Arton.

Sim, dele. Ele era importante, e ela esperava algo grandioso dele. Ele não era como esses elfos tolos por aí que não se importam com sua raça, memórias, descendência, e moram entre humanos, copulando como animais e enchendo Arton de mestiços meio-elfos. Não! Ele sabia o que era melhor pra eles!

Era isso. Ele tinha que usar de todo e qualquer meio para reerguer a nação élfica. Só assim a Dama perdoaria sua tolice. Só assim..

Martin largou o corpo que possuía, flutuando em sua forma etérea acima do mesmo. A coloração semitransparente mudava entre azul, esverdeado, e cinza. Olhava para si mesmo, reflexivo. Seu corpo real não parecia em nada com o elfo carismático que ele idealizava com itens mágicos; era apenas uma criança raquítica.

E continuaria o sendo pela eternidade.

Mas ele se sentia bem.. Era bem melhor estar daquela forma do que ter um corpo. Seu corpo sempre doía. Sempre sentia fome. Sempre sentia cansaço e fraqueza.. Como fantasma, não. Ele se sentia bem. E ele não sentia que precisava se matar, já que estava morto.

O elfo fantasma retira do corpo ao chão o item mágico que lhe fazia parecer outra pessoa, revelando-o. Um garoto humano, maltratado, ferido. Magérrimo. Não era assim antes, mas os corpos não costumavam lhe durar muito; era realmente inconveniente alimentá-los, dar-lhes água, ou cuidar deles. Então Martin usava-os até morrerem. Depois arranjava outro.

O tal garoto, de qual Martin não sabia nem o nome e não se importava em saber, provavelmente era um ladino de rua como ele havia sido. Mas o elfo não tinha pena alguma; os humanos não tinham tido pena dele.. Porque ele haveria de ter pena deles agora?

O garoto olhava o fantasma com uma expressão confusa e sonolenta. Martin retirava de suas vítimas parte de suas vidas, parasitando-os, sugando-lhes o discernimento, a personalidade e o bom-senso. Então ficavam daquela forma, semiconscientes. Mas o elfo não sabia se podiam lembrar ou não do que passaram enquanto eram possuídos e usados como seu corpo, então preferia esperar eles morrerem a liberá-los. Não queria vinganças contra ele depois.

Martin abre um saco com ração de soldado e coloca uma tigela d’água, encorajando o corpo a comer. Por puro desespero de sobrevivência, o garoto comia e bebia água, animalesco.

O fantasma esperava com tédio.

Depois que o garoto já havia comido o suficiente o elfo fantasma colocou as mãos próximas ao corpo, fechando os olhos. Encostava de leve os dedos espectrais, sugando-lhe energia vital. O jovem humano choramingava, o que não atrapalhava o bem-estar que o fantasma sentia naquela forma de alimentação. Aquilo era prazeroso e restaurador, bem mais do que qualquer descanso.

Se forçando a terminar, pois o fantasma tinha que se controlar para não sugar toda a energia (o que mataria o corpo), Martin se coloca novamente a pensar.

Não conseguia desviar mais o foco de sua preocupação. O exército. Os elfos. O balor. E o mais importante de tudo; Ethan, seu irmão, que até um dia atrás ele tinha certeza que estava morto. (Mas morto mesmo, não morto como ele!)

Devia tentar matar o balor para libertar seus servos. E com isso, libertar os elfos.. Ia ter ajuda, com certeza, Glórienn não o deixaria sozinho para tentar libertar mais de seu povo; conseguiria seguidores em Ni-Tamurá, e seguidores na comunidade clerical onde treinara.

Mas.. Ethan estava com eles? Ele estava vivo? Ele estava bem? Ethan tinha procurado por ele?

De inicio Martin preferiu negar; La-Uth devia estar maluco quando disse ter visto Ethan.. Por mais que Martin soubesse que seu irmão tinha uma relação mais forte com ele, não podia negar que para La-Uth, Ethan fora muito tempo um irmão também sendo ambos amigos inseparáveis num passado distante.

Ele lembrou disso, pois nos últimos anos passou a ter flashs de memória. Martin havia soterrado muita coisa de sua infância que estava resgatando só agora: Descobriu, por exemplo, que sua perna esquerda dobrava menos que a direita não por um acidente, como ele achava, mas sim por sua mãe ter batido repetidamente em seu joelho esquerdo certa vez, com uma cadeira, por represália de ele ter faltado em algum compromisso.

“Ela sabia o que era melhor pra mim.” Ele pensava, num suspiro, na verdade tentando não pensar.

Mas, fatalmente, boa parte de sua criação fora obra de Ethan; ele lhe dava roupas, comida, brincava com ele. Ensinou a ler, escrever, começou a ensinar técnicas de espada e arco. Ele comemorou seus aniversários, ele que lhe colocava na cama todas as noites. Ethan que lhe trazia amoras pelo menos uma vez por semana, dos campos próximos a Lenórienn. Ele que havia lhe dado sua adaga élfica, sua coisa mais preciosa em vida.

O que Ethan pensaria se soubesse os rumos que Martin havia tomado? Que estava matando gente? Que era um fantasma corrompido? Que havia se matado por causa de uma humana idiota?

Não, ele não podia saber! Martin ia salvar Ethan, com certeza, mas sem deixá-lo saber de sua real natureza. Dessa forma, tudo continuaria como antes.. Tudo ficaria bem, até melhor, e ele ia ser querido novamente. Por sua nova família, sua nova mãe, seu novo irmão.. E por ele, Ethan. E por La-Uth. Sim, ele ia ser feliz! E por fim, ia reconstruir a nação élfica! Ia dar tudo certo!

Glórienn fizera ele e La-Uth reencontrarem Ethan. Só podia ser, como um presente pelos esforços do elfo, como ele não tinha percebido? Sua Dama Élfica era boa, e ela o amava. E como Ethan podia censurar Martin se tudo que ele estava fazendo era para o bem da raça deles?

Martin retira das vestes do humano alucinado um símbolo de ouro; um arco se cruzando com uma espada. O símbolo da deusa dos elfos, Glórienn. Ele pega o objeto nas mãos e acaricia, sorrindo de leve, perturbado.

“Glórienn, Glórienn.... Glórienn..”

Evocando chamas negras em ambas mãos, que envolviam o objeto, ele fecha os olhos. Estava com as mãos em prece e deixava as chamas lhe queimarem, ferindo-o, deformando e escurecendo o ectoplasma que compunha suas mãos e braços.

“Aceite minha dor, minha deusa! Aceite minha dor como demonstração da minha fidelidade por ti, como punição aos meus infinitos pecados, e como gratidão à minha Dama de continuar me agraciando e olhando por mim mesmo sabendo de toda a minha podridão..”

Ele leva os olhos negros cheios de trevas para o alto.

Tentava mais ou menos basear suas ações nas de Tobi, o religioso de seu grupo de aventureiros, e quem indiretamente o havia inspirado a seguir o clericato.

“Não irei te decepcionar!”

Finalmente extinguindo as chamas, o elfo passa alguns segundos analisando, com uma expressão infantil, as mãos e braços meio derretidos.

Doía muito.

E isso era bom. A dor física aliviava a dor em seu peito, mesmo que ele não tivesse mais um coração.

E quanto mais se sofre, mais você mostra que realmente se importa com algo, certo?